Reflexos
Alzira passava por uma crise de identidade um tanto
quanto diferente: Ela sabia muito bem quem era. Não tinha dúvida alguma em
relação á isso. O problema eram as outras pessoas. Estas, sim, não sabiam quem
era Alzira.
Os colegas da faculdade e do trabalho não a
conheciam, as amigas (até mesmo as de longa data!) também não, o namorado não a
conhecia, seus pais (com quem dividia a mesma casa desde o nascimento) também
não. Aquilo tudo era muito estranho e incômodo. Sentia-se coadjuvante da própria
existência. Vivia em um mundo em que as pessoas não se conheciam e nem se
esforçavam para tanto.
Alzira não queria ser o centro das atenções, o
centro do universo; Só não queria mais ser subestimada. Era isso o que mais a
perturbava.
O jeito, a solução encontrada, foi mostrar a que
veio. Mas muitos não gostaram do verdadeiro eu de Alzira. Procuraram se
afastar. E a moça tinha de admitir: agindo daquela forma, querendo mostrar-se,
provar-se, distorcia, de alguma forma, a própria personalidade. Distorcia o seu
próprio Eu. Então a sua crise de identidade só piorou. Agora, ela mesma tinha
dúvidas quanto a quem era de fato a Alzira que até pouco tempo atrás acreditava
conhecer tão bem.
-Quem sou eu? – Perguntou a moça, aos prantos, ao
namorado.
-Você é a mulher que eu amo...
Pois o namorado amava uma pessoa que não existia.
Amava a imagem que tinha de Alzira, não a Alzira em si. Talvez ela mesma
estivesse apaixonada apenas pelo que acreditava ser seu namorado. Esse
pensamento a confundiu. Na certa, todos que ela supostamente conhecia eram
apenas uma imagem errônea que ela havia produzido... Tratava-se de um mundo muito
estranho, repleto de pessoas estranhas, que, estranhamente, estranhavam-se
entre si mesmas... O fato é que a verdade não passa de um belo engano enquanto
o que julgamos engano é o que talvez mais se aproxime da realidade que julgamos
conhecer, mas que na realidade desconhecemos totalmente... Duplamente
enganados.
Alzira procurou acalmar-se e, após uma longa e
regeneradora noite de sono, estudou o próprio rosto no espelho. Não conseguiu
distinguir, naquelas feições, o seu Eu. Era triste, mas era verdade, era
realidade:
As pessoas nos veem como nos enxergamos no espelho:
Apenas um mero reflexo do que realmente somos.
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Jonatas Rubens Tavares
http://ooportal.blogspot.com.br/
Um comentário:
O ser humano e sua formação psicológica em EGO, ID e SUPEREGO. Matamos esta charada de Freud?
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