segunda-feira, 2 de setembro de 2013

a mosca ou o único cliente da noite


a mosca zunia em torno da lâmpada velha e suja. as cinco mesas do boteco infame estavam vazias. a pouca luz não escondia a gordura entranhada nos copos e toalhas plásticas nem as paredes descascadas e rachadas. no ar cheiro a mofo e mijo. o dono da pocilga era um gordo fedorento que mastigava o palito usado e limpava o balcão com um pano sórdido. e lá estava o único cliente da noite encostado no tal balcão. do rádio de pilha em cima da prateleira, ao lado das garrafas, saia uma música antiga que falava de um bordel e suas putas tristes. o copo de cerveja do único cliente estava pela metade. ele tira do bolso da camisa um cigarro. pede fogo. ganha uma caixa de fósforos. acende o cigarro, dá uma tragada longa, acaba com a bebida num gole só. puxa o revólver do bolso de trás da calça jeans e dá um tiro no dono do bar e outro na própria cabeça. ficam ali os dois estendidos no chão imundo. lá fora apenas um cão late ao longe. a música no rádio continua. a mosca desiste da lâmpada velha e pousa na boca do único cliente da noite.

6 comentários:

Pablo Treuffar disse...

como já disse, sensacional, eu adoro esse seu estilo submundo assassino

Giovani Iemini disse...

espero que isso não seja no bar do escritor. hehehe.

andrea carvalho deca disse...

haahaha gi não é no bar do escritor, definitivamente.
pablo, valeuuuuuzão.

andrea carvalho deca disse...

;)

Unknown disse...

Se as moscas falassem nos contariam tudo que veem com seus olhos multifacetados bem como o que o ouvem da boca de um morto. Sensacional, não, não acho que seja o mesmo bar, mas talvez foi de lá que ele comprou a bebida. Abraços.

andrea carvalho deca disse...

ei luciano, certeza que foi de lá que comprou a bebida hehehheheh um beijo e obrigada pela visita. e ó, adorei a frase "se as moscas falassem contariam tudo que veem na boca de um morto".