Ben
"...tudo aquilo
que você esconde, se for errado, continuará crescendo. Aquilo que você expõe,
se for errado, desaparece, evapora ao sol, e se for correto será nutrido."
(Osho)
Meu nome de batismo é
Benedito, mas soará melhor para todos, inclusive para mim, se você me chamar de
Ben. Lembro-me com pesar os primeiros anos escolares, quando os professores
insistiam em me chamar de Benedito, as outras crianças riam e faziam chacota
com o meu nome. Eu era um garoto sem amigos, introvertido e triste.
Um dia isso tudo
mudou, um dia eu mudei a coisa toda. Quando findei os estudos primários, minha
mãe me matriculou em outro colégio, um colégio grande e privado. Então resolvi
sepultar o Benedito e dar à luz ao Ben, a mim. Foi logo no início do ano
letivo, por ocasião do primeiro dia de aula, a professora pediu aos alunos
todos para que, um a um, se apresentassem aos demais. Eu já havia planejado o
discurso e, quando chegou a minha vez, não titubeei:
- Caros colegas, cara
professora, sou Ben, tenho dez anos e moro no Leblon. Por bem da verdade, meu
nome de batismo é Benedito Munhoz Neto em homenagem evidente ao meu avô
paterno, porém agradeceria se os colegas e a senhora professora me chamassem
simplesmente de Ben.
As outras crianças
ficaram impressionadas com a minha desenvoltura ao pronunciar o discurso que
Lucinha, minha confidente e amada irmã mais velha escrevera para mim, mas não
ficaram mais aturdidos do que a professora de língua portuguesa:
- Muito bem, digo,
muito bom, Ben. Vejo que você se expressa com facilidade, adivinho um excelente
aluno da minha disciplina, tenho certeza que a razão disso é a leitura. Você
provavelmente lê bastante e certamente escreverá excelentes redações. Estou
muito satisfeita com a forma como você se apresentou e lhe adianto que todos
acataremos o seu pedido.
Agradeci e sentei-me
orgulhoso, mas de imediato um pensamento me aterrorizou, a minha máscara de
orador, até então bela, tornara-se subitamente pesada e de difícil sustentação;
eu não tinha o hábito da leitura e nem sabia escrever as tais excelentes
redações. Outra vez invoquei a ajuda de Lucinha, a qual me apresentou ao
fantástico mundo dos livros e se prestou a revisar com antecedência as minhas
redações e a me dar reforços de gramática. Lucinha ensinou-me até a escrever
poemas inocentes e românticos, despidos de qualquer valor literário, mas que
tiveram grande préstimo por ocasião das minhas primeiras investidas amorosas.
Por anos Lucinha deu
suporte às minhas máscaras, às minhas mentiras e eu a idolatrei por isso, porém
mais de vinte anos depois a coisa toda se tornou insustentável; máscara de
marido fiel, máscara de pai dedicado, máscara de profissional ético e
politicamente correto, máscara de amigo leal, máscara de filho bem sucedido,
máscara disso, máscara daquilo e a insuportável tensão gerada pela alternância
dessas máscaras todas. A necessidade constante de saber quando despir uma,
quando vestir a outra, sem descanso, sem direito à equívocos.
Eu queria mesmo era
despir-me de todas as máscaras, mas mesmo quando estou nu sobre você, Maria
Helena, e encenamos esse ato falho que chamamos de amor, visto uma máscara e
represento um papel, pior, sei que você também usa uma máscara e encarna um
personagem. Não lembro mais do seu rosto sem elas e acho que nunca vi o meu.
Por isso essa carta, por isso estou indo embora, deixando vocês para trás,
vocês e todas as minhas máscaras. Vou para um lugar qualquer, onde ninguém me
conheça e me apresentarei com um discurso diferente, mais simples, mais honesto
e sucinto: "Olá, meu nome é Benedito e ainda estou descobrindo quem
sou."
---
Cirineu Pereira
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=129687
Um comentário:
Que Deus abençoe seu Natal
seja uma noite linda junto dos seus familiares,
pois é uma noite muito especial.
Que as estrelas dos céus brilhe sobre
todos nós.
Obrigada por ter convivido
comigo mais um ano ,
que você contiue com um lindo sorriso sendo
anjo bom na minha vida.
Um abraço e meu carinho.
Um Feliz Natal para você e sua preciosa
família.
Que o amor de Deus
esteja em nossos corações sempre.
Carinhosamente, Evanir.
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