todo dia Amélia salta sua constância
no ímpeto que até a mais vil coisa tem de aspirar
nem que seja fragmentos diminutos do indizível
ela vai remexendo o impalpável
sacudindo grãos no espaço
pra semear uma ilusão qualquer
no turbilhão desse pó mágico
sobe terra, cimento, micro-vidas
na atmosfera, congregados: um castelo!
Vem as horas, o marido, a gravidade
velhos hábitos: a comida, a novela
ficam os pratos, a poeira, a ilusão
suspensos, se acumulam pro amanha
7 comentários:
Lírico. Muito bom Jimenna. Você interiorizou e transfigurou poeticamente a Amélia.
vida. é isso.
segundo Massaud o eu-lírico se configura quase como uma fotografia, outro ser, porém dotado das pecularidades do eu-do-poeta. aqui além senti-lo (o eu-lírico) quase posso vê-lo, com precisão, e isso transcende.
tu'alma, Ji, é uma folha em branco, onde impressa estão o tempo, o relógio, o metafísico. figura ainda os questionamentos referentes ao humano com suas qualidades e mazelas.
proporcionou-me aqui, filha, uma viagem lírica e extenuante, pois basta! por hoje me basta tanta catarse.
muito bom
a segunda estrofe é perfeita
"Amélia era mulher de verdade..." Deixava eu beber à vontade,rs
Bela releitura interior de uma das imagens femininas mais conhecidas da cultura nacional. Amélia podia ser uma "mulher de verdade, mas acho que se ressentia disso. Trabalhar em um escritório, de tailleur e coque, provavelmente a deixaria mais realizada.
ficanapaz.
"Todo o dia ela faz tudo sempre igual/me sacode às 3 horas da manhã..."
Mas do que uma releitura do mito da Amélia, enxerguei no poema da Jimenna um lírica descirção do cotidiano desesperançado de milhões de injustiçadas donas-de-casa tupiniquins.
Dona Jimenna é um verdadeira artesã das palavras.
esse poema não é aquele outro?
E assim Amélia se tortura em silêncio 'pro amanhã'. Gostei da visão do que fica para o depois. Parabéns!
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