o cinza nubla
a paisagem tímida
da velha cidade.
congestionada,
essas ruas
quase mortas
putrefeitas
de asfalto
martírio
de quem vem
do barro,
traçam linhas
a destinar
seus ciclos
e vícios.
sumo,
invado o nada
que engole
a cidade.
sumo,
esgoto toda
a ternura
que era de cimento.
5 comentários:
Gosto de urbanidades. O putrefeitas ficou bonito. Putrefazidas, putrificadas.
Esse cara é mesmo porreta!
Cada poema melhor que o outro, lindo.
Gostei!
Essa poesia é bela, poesia por si só. O título introduz o cenário, as palavras seguintes tomam conta do resto. Por elas, a cidade velha é apresentada de modo silencioso ou surdo. Uma cidade velha deve ser agitada, suas ruas estão congestionadas, mas a poesia não tem esse som: é de reflexão, de ponderação. A cidade velha deve ser grande, alta, são-paulina, mas o que vemos pela poesia é que sua paisagem é tímida, retraída, não imponente.
A cidade velha parece querer esconder-se. Mas atrás de quê? De nada - e em nada a cidade se transforma. Terá valido sua velhice? Que vergonhas traz o seu passado para esta anulação?
Na cidade velha, as ruas estão congestionadas de pessoas e carros que caminham como formigas sobre um corpo putrefeito. Terá morrido então a cidade velha? E estaremos todos caminhando sobre seu cadáver sem nos apecebermos disso?
Eis uma poesia de reflexão: reflete todo o nosso cinza.
Parabéns, Leo!
Acredite no Fernando.
um poema necessário. essa poética sobre as raízes e a memória dos espaços nos faz tocar o chão e caminhar sobre as marcas do tempo.
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