segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Consternação

De filhos, foram dois. Mal entrados na casa dos vinte. Coragem de partir deste sertão, tinham de sobra. Mas jamais como abandono. Disso não eram. Conformação não tinham. Já viram mais coisa triste por aqui, que não veriam em uma vida inteira toda uma povoação de cidade do sul. E se foram. Rio de Janeiro ou São Paulo, não lembro bem. Se se separaram, foi só depois, naquele restinho dos tempos.

Guerra, tinha contra a seca, contra a natureza do lugar, contra o tempo. Vez ou outra tinha rixa de vizinhos. A perpetuação da sina que era insustentável por aqui.

Partissem em outra época e vida que tenho hoje melhor seria. Pois que chegando por lá e luta era outra. Contra a governação. Distanciamento. Resignação, nunca. Amizades que fizeram eram boas, mas o descontentamento geral bateu também em seu corações.

Muita gente. Gente de pensamento. Aglomeração. Soldados. Cavalaria. Armas. Medo. Assassinato. Violação. Nisso tudo juntaram meus filhos, os dois. Nem comunistas eram, nem em partido eram filiados. Mas, escreveram livros. Gritaram a agonia do nosso povo. Depois disso, nunca mais. Nunca mais!

Que tempo de consternação, já perdura uns 35 anos. Desaparecidos. É como disseram a este velho sertanejo que sucumbe desse mal sem descrição. Incompreensão.

Isso é tristeza. Saudade. Velasse seus corpos e sossegaria. Pois se vivo é porque não tenho ainda paz pra morte.


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Sob pseudônimo de Seu Januário Eurípedes

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, paizim.
Lv ú.

(k)

Carlos Cruz disse...

Caramba, Sapudo. Nunca pensei que o Véio Zuza fosse tu.

hehehe.

Enganou-me legal.

Quanto ao texto, muito bom. Incorporaste bem o espírito bucólico sertanejo, a despeito de seres um ser cosmopolita.