feliz 2008
narrar um assassinato é quase tão
difícil como dizer que te amo
como falar do sangue que se esvai ou
vc cantarolando numa aléia do horto de vestido florido
como descrever o terror dos olhos e o grito sequelado ou
vc vendo tv de calcinha de algodão
ou como dizer da arma ainda quente ou
seu corpo mole na cama
essas coisas do amor e do ódio
são impossíveis de narrar.
http://chacalog.zip.net/
Reconhecido no universo cultural brasileiro, o poeta Chacal usa a palavra como instrumento verbal para denunciar o cotidiano da barbárie, sempre recorrendo ao humor e à metalinguagem. Em seu processo criativo é raro o poeta trabalhar a palavra, por entender que o poema tem uma estrutura inconsciente. O processo é espontâneo, dentro de uma linha surrealista, desenvolve-se no inconsciente e aflora em sua "anatomia". Cronista, letrista, autor de teatro e, sobretudo, poeta, Chacal caminha pela poesia antropofágica herdade do mestre Oswald de Andrade. "Acho que o poema não tem que ter modelos preestabelecidos. Têm pessoas que só trabalham daquele jeito e são ótimos, têm que ter forma, métrica, aquela grade para se soltar na formalização. Eu acho que o poema sabe de si. Vem de uma forma ou de outra, mas vem".
(Gil Francisco)
6 comentários:
"narrar um assassinato é quase tão
difícil como dizer que te amo"
Concordo com o quase. Dizer verdadeiramente "eu te amo" é impossível.
Esse é o cara.
Gostei da simplicidade, da filosofia. É preciso ser ousado como um Jesus para fazer coisas do tipo narrar o amor ou o ódio.
Já eu não gostei. Claro que tudo é válido, mas nem tudo é gostado. (Não gostei, inclusive, do "vc".)
Que poema! Embala a gente entre o assassinato e o amor.
Poesia do tipo q jorra. Quem lê pode talvez analisar. O poeta não analisou nada, nem precisa.
É como se fosse uma peça pra piano, a mão esquerda marcando a cadência das linhas, a direita dedilhando as sílabas.
Pro meu ouvido,lembra Cummings.
(sei q ninguém gosta mto de 'lembrar' ninguém.)
pô, qdo vou sair daqui vou ler mais um pouco de Chacal.
Chacal brilha, o amor é algo impalpável, enquanto assassinatos já estão banalizados em nossos tempos.
Muito bom o escrito.
Sou fã.
Sabe disso!
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