domingo, 10 de fevereiro de 2008

Convidado: Chacal

feliz 2008



narrar um assassinato é quase tão

difícil como dizer que te amo

como falar do sangue que se esvai ou

vc cantarolando numa aléia do horto de vestido florido

como descrever o terror dos olhos e o grito sequelado ou

vc vendo tv de calcinha de algodão

ou como dizer da arma ainda quente ou

seu corpo mole na cama

essas coisas do amor e do ódio

são impossíveis de narrar.







http://chacalog.zip.net/





Reconhecido no universo cultural brasileiro, o poeta Chacal usa a palavra como instrumento verbal para denunciar o cotidiano da barbárie, sempre recorrendo ao humor e à metalinguagem. Em seu processo criativo é raro o poeta trabalhar a palavra, por entender que o poema tem uma estrutura inconsciente. O processo é espontâneo, dentro de uma linha surrealista, desenvolve-se no inconsciente e aflora em sua "anatomia". Cronista, letrista, autor de teatro e, sobretudo, poeta, Chacal caminha pela poesia antropofágica herdade do mestre Oswald de Andrade. "Acho que o poema não tem que ter modelos preestabelecidos. Têm pessoas que só trabalham daquele jeito e são ótimos, têm que ter forma, métrica, aquela grade para se soltar na formalização. Eu acho que o poema sabe de si. Vem de uma forma ou de outra, mas vem".
(Gil Francisco)

6 comentários:

Klotz disse...

"narrar um assassinato é quase tão

difícil como dizer que te amo"

Concordo com o quase. Dizer verdadeiramente "eu te amo" é impossível.

Muryel De Zôppa disse...

Esse é o cara.

Darwin disse...

Gostei da simplicidade, da filosofia. É preciso ser ousado como um Jesus para fazer coisas do tipo narrar o amor ou o ódio.

Fernando Maia Jr. disse...

Já eu não gostei. Claro que tudo é válido, mas nem tudo é gostado. (Não gostei, inclusive, do "vc".)

Betty Vidigal disse...

Que poema! Embala a gente entre o assassinato e o amor.
Poesia do tipo q jorra. Quem lê pode talvez analisar. O poeta não analisou nada, nem precisa.

É como se fosse uma peça pra piano, a mão esquerda marcando a cadência das linhas, a direita dedilhando as sílabas.


Pro meu ouvido,lembra Cummings.

(sei q ninguém gosta mto de 'lembrar' ninguém.)

pô, qdo vou sair daqui vou ler mais um pouco de Chacal.

Larissa Marques - LM@rq disse...

Chacal brilha, o amor é algo impalpável, enquanto assassinatos já estão banalizados em nossos tempos.
Muito bom o escrito.
Sou fã.
Sabe disso!