Rita tinha dois empregos, zeladora da universidade e diarista.Tudo para manter Manuela, sua filha, no curso de arquitetura. Mona, era assim que a chamava, pois tinha o mesmo sorriso enigmático da Monalisa de Da Vinci.
Estava fazendo uma prova para bolsa de estudos.
-Ei...Psiu, Mona...Era Júlio, seu velho amigo de infância pedindo cola. - A 2ª, por favor...Mona ergueu a saia e mostrou um pedaço de papel colado à calcinha de renda. Julio ficou tenso, ela sempre o provocava, mas aquele não era o melhor momento.
-Pegue.- A moça o olhou com malícia. Júlio estendeu a mão e tocou no papel, trêmulo. Mona deslizou na cadeira fazendo-o tocar no fundo úmido e fino da malha de algodão. Puxou a mão do garoto e o fez gemer. O papel que havia sido arrancado caiu ao chão. Mona fez menção de pegá-lo quando...
-Deixe que eu pego.- Era o professor que assistira tudo. Pronto, estava ferrada. Que burrice.Sempre agia assim, sem pensar.Mas agora...Não!Era o fim.Sua mãe ia ter um enfarte de desgosto.
-Eu não ia colar professor.Era uma brincadeira.
-Cala a boca! Dê-me essa prova.
-Por favor,...
-Já disse, me dê essa prova!- Tomou com força e começou um longo discurso.-Cansei de ser bonzinho com você, garotinha mimada.Só está aqui por causa de sua mãe, sempre trabalhando feito uma louca enquanto você faz das suas.Bebedeiras, desacatos, sempre revoltada com o mundo.
-Por favor, professor, eu não ia colar.Uma chance, por favor...
-Uma? E todas que já dei?
-Dessa vez sou inocente.Não pretendia colar. Era uma brincadeira...
-Dê-me a prova e saia da sala.Já!
A moça entregou a prova e levantou-se.
O professor coçou a cabeça. Talvez tivesse exagerado. E se fosse só uma brincadeira mesmo? Não podia levar tudo a ferro e fogo. De qualquer maneira, ela merecia um susto.Respirou fundo e disse:
-Espera...
-Como? Mona estava sem entender.
-24 horas...Você não adora brincar com outros?Não vive tentando ser o centro das atenções?Pois agora vai ter sua chance.Tem 24 horas para me surpreender.Vale a sua prova.Mas vou adiantando, nada mais que você faça me surpreende, esgotou todas as possibilidades.
-Não to entendendo...
-Dane-se!Choque!Faça-me ficar boquiaberto.Se jogue do décimo andar, morra, mas choque!Quero ver até onde vai sua criatividade.Disse isso e foi até a porta. -Agora saia!Fora!
Na rua ainda ouvia os risos dos colegas:
-Fodida! ESTÁ FODIDA!
Entrou no ônibus e foi para casa.
O que fazer?Já tinha entrado na sala do diretor e feito um strep em cima da mesa, o que lhe rendeu 10 dias de suspensão; peidara dentro do elevador cheio de gente; já se despira durante o sermão da igreja, o que lhe rendeu uma surra. Sem saber o que fazer chegou ao portão da fazenda onde morava com a mãe. Os donos só vinham aos finais de semana. Sua mãe cuidava da manutenção da casa e dos animais. Ganhava um extra que ajudava nas despesas.
Olhou para o galinheiro e foi até a cerca.
-Olá galinhada! Sentia-se uma idiota.Qualquer galinha ali merecia mais respeito que ela. Olhou pela primeira vez para uma delas, majestosa, com suas penas amarelas. -Olá. Está quentinha aí? Tinha oito ovos e a galinha parecia querer proteger suas crias. Era uma verme mesmo! Até aquela galinha fazia tudo por seus filhos. A mãe, coitada, teria uma síncope quando soubesse que perdeu a prova. Pegou um dos ovos e agasalhou junto ao corpo.Sentia necessidade de ser útil.
No dia seguinte, o professor entrava na universidade quando o zelador veio ao seu encontro.
-Doutor...Não foi culpa minha.
-Do que está falando?
-A moça...Apontou para a sala de aula que estava aberta.
-Que moça?O que houve?Um frio na barriga, ele correu em direção a porta. Mona estava deitada ao chão enrolada num cobertor.Quando viu o professor sentou e disse: -Bom Dia. -Que faz aí? Dormiu aqui? Mona ergueu as mãos e mostrou o pinto que acabara de nascer.O chão ainda tinha as cascas finas do ovo. -Meu Deus!Ele estava impressionado.Você...Chocou?
Mona deu o seu famoso sorriso enigmático como resposta.
Me Morte
a puta da casa
15 comentários:
Assim como o Professor, também fiquei surpreendido e "chocado" mas, para que já fez strip em cima da mesa do Diretor e tirou a roupa na igreja só mesmo uma atitude longe da esfera sexual para supreender o titio Mestre.
Gostei. É um texto simples, direto, focado apenas em contar uma história, sem aquela preocupação em se monstrar moderninho ou intelectualmente pedante.
O texto da Me tem personalidade. Fala de sacanagens, situações pouco prováveis, loucuras libidinosas, porém ninguém pode dizer que não é original.
Realmente me CHOCOU quando li. Hehehe. Gostei, tem leveza ao final numa situação tão densa.
Testando,rsss
Primeiro eu não conseguia postar, agora o Edu não consegue comentar."Te desconjuro urucubaca que quer derrubar a Me, se for homem caia o pau, se for mulher os peitos,rsss"
Pronto Edu, pode vir,hehehehe
bem estilo Me!
adorei, gostoso de ler e com fim surpreendente
essa é a nossa Me
eaiaeaieaee
:D
bjss
André Espínola
Me, o final é fantástico! Um texto gostoso de ler e bem ao estilão que já está virando marca registrada.
Gostoso de se ler, com um final surpreendente; muito criativo.
Embora haja um -inegável- erotismo, há , ainda , uma ternura incrível... Foi emocionante imaginar a transposição, entre o cenário da sala-de-aula , e a fazendola ... Lá, em sua zona de conforto , em meio às galinhas -suas conhecidas - ela tem a "visão" , tanto da vingança adolescente, quanto da volta ao seu recolhimento interior.
Choca o corpo docente-administrativo, tanto o quanto choca o pequeno penoso...E choca-nos, igualmente , ao sorrir de soslaio , como sua xará mais famosa, certa de que , de seus mistérios , só o saberemos se ELA quiser.
Maravilha, Me! (ou Me Maravilha?)
Gostei muito.
Tem gente que prefere de frente, outros de costas. Prefiro você contando a poetando.
Super beijo.
Muito legal! Só ficou uma dúvida: como ela chocou o ovo? Heheheheeheheh
Ei, aqui, sinto vontade é de aplaudir, a narrativa mais instigante do momento.Suspirei profundamente.
Ha algum tempo atras estava muito em moda colocar alguem se fodendo para criar seus filhos, e os filhos reconhecendo e dando valor a isso. Nesta narrativa surpreendente do comeco ao fim, a criatividade de uma personalidade muito querida, coloca um basta as tendencias literarias, fazendo da mae honesta, uma senhora cheia de bons motivos para se envergonhar da filha. Embora a tal mona,tenha um leve momento de arrependimento de seus atos depravados, mas e delicioso em saber que quando ve o seu professor, se esquece disso. Sim a Me pode fazer diferente, nao, nao duvide do talento desta mulher, ou voce pode se chocar!rs.
Parabens Me.
Me, você tem uma escrita que 'sempre' está no caminho da surpresa. Divertido e interessante.
Parece uma viagem e ao mesmo tempo é tão real. Lembrou-me a fábula de Chico Buarque, "Geni e o Zepelim".
Te dizer que fiquei excitado!Me pareceu um conto quase autobiográfico, ou pelo menos a quase biografia de como vc se pinta.Só achei improvável uma zeladora de uma universidade e diarista fazer uma analogia de sua filha com a obra de Leonardo Da Vinci, mas de toda forma isso é o de menos e se justifica pelo desfecho.Realmente vc é melhor de conto que poema, não tenha dúvida!
Bjo gostosa
Talles Machado Horta/Verdejar/Noir No Ar/Roderick Usher
Nossa!!!Taí Larissa, eu adoro ser chamada de gostosa,rss.Valeu Thales.Beijos
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