sexta-feira, 2 de março de 2007

MonAlisa

Rita tinha dois empregos, zeladora da universidade e diarista.Tudo para manter Manuela, sua filha, no curso de arquitetura. Mona, era assim que a chamava, pois tinha o mesmo sorriso enigmático da Monalisa de Da Vinci.

Estava fazendo uma prova para bolsa de estudos.

-Ei...Psiu, Mona...Era Júlio, seu velho amigo de infância pedindo cola. - A 2ª, por favor...Mona ergueu a saia e mostrou um pedaço de papel colado à calcinha de renda. Julio ficou tenso, ela sempre o provocava, mas aquele não era o melhor momento.

-Pegue.- A moça o olhou com malícia. Júlio estendeu a mão e tocou no papel, trêmulo. Mona deslizou na cadeira fazendo-o tocar no fundo úmido e fino da malha de algodão. Puxou a mão do garoto e o fez gemer. O papel que havia sido arrancado caiu ao chão. Mona fez menção de pegá-lo quando...

-Deixe que eu pego.- Era o professor que assistira tudo. Pronto, estava ferrada. Que burrice.Sempre agia assim, sem pensar.Mas agora...Não!Era o fim.Sua mãe ia ter um enfarte de desgosto.

-Eu não ia colar professor.Era uma brincadeira.

-Cala a boca! Dê-me essa prova.

-Por favor,...

-Já disse, me dê essa prova!- Tomou com força e começou um longo discurso.-Cansei de ser bonzinho com você, garotinha mimada.Só está aqui por causa de sua mãe, sempre trabalhando feito uma louca enquanto você faz das suas.Bebedeiras, desacatos, sempre revoltada com o mundo.

-Por favor, professor, eu não ia colar.Uma chance, por favor...

-Uma? E todas que já dei?

-Dessa vez sou inocente.Não pretendia colar. Era uma brincadeira...

-Dê-me a prova e saia da sala.Já!

A moça entregou a prova e levantou-se.

O professor coçou a cabeça. Talvez tivesse exagerado. E se fosse só uma brincadeira mesmo? Não podia levar tudo a ferro e fogo. De qualquer maneira, ela merecia um susto.Respirou fundo e disse:

-Espera...

-Como? Mona estava sem entender.

-24 horas...Você não adora brincar com outros?Não vive tentando ser o centro das atenções?Pois agora vai ter sua chance.Tem 24 horas para me surpreender.Vale a sua prova.Mas vou adiantando, nada mais que você faça me surpreende, esgotou todas as possibilidades.

-Não to entendendo...

-Dane-se!Choque!Faça-me ficar boquiaberto.Se jogue do décimo andar, morra, mas choque!Quero ver até onde vai sua criatividade.Disse isso e foi até a porta. -Agora saia!Fora!

Na rua ainda ouvia os risos dos colegas:

-Fodida! ESTÁ FODIDA!

Entrou no ônibus e foi para casa.

O que fazer?Já tinha entrado na sala do diretor e feito um strep em cima da mesa, o que lhe rendeu 10 dias de suspensão; peidara dentro do elevador cheio de gente; já se despira durante o sermão da igreja, o que lhe rendeu uma surra. Sem saber o que fazer chegou ao portão da fazenda onde morava com a mãe. Os donos só vinham aos finais de semana. Sua mãe cuidava da manutenção da casa e dos animais. Ganhava um extra que ajudava nas despesas.

Olhou para o galinheiro e foi até a cerca.

-Olá galinhada! Sentia-se uma idiota.Qualquer galinha ali merecia mais respeito que ela. Olhou pela primeira vez para uma delas, majestosa, com suas penas amarelas. -Olá. Está quentinha aí? Tinha oito ovos e a galinha parecia querer proteger suas crias. Era uma verme mesmo! Até aquela galinha fazia tudo por seus filhos. A mãe, coitada, teria uma síncope quando soubesse que perdeu a prova. Pegou um dos ovos e agasalhou junto ao corpo.Sentia necessidade de ser útil.

No dia seguinte, o professor entrava na universidade quando o zelador veio ao seu encontro.

-Doutor...Não foi culpa minha.

-Do que está falando?

-A moça...Apontou para a sala de aula que estava aberta.

-Que moça?O que houve?Um frio na barriga, ele correu em direção a porta. Mona estava deitada ao chão enrolada num cobertor.Quando viu o professor sentou e disse: -Bom Dia. -Que faz aí? Dormiu aqui? Mona ergueu as mãos e mostrou o pinto que acabara de nascer.O chão ainda tinha as cascas finas do ovo. -Meu Deus!Ele estava impressionado.Você...Chocou?

Mona deu o seu famoso sorriso enigmático como resposta.

Me Morte

a puta da casa

15 comentários:

Lameque disse...

Assim como o Professor, também fiquei surpreendido e "chocado" mas, para que já fez strip em cima da mesa do Diretor e tirou a roupa na igreja só mesmo uma atitude longe da esfera sexual para supreender o titio Mestre.
Gostei. É um texto simples, direto, focado apenas em contar uma história, sem aquela preocupação em se monstrar moderninho ou intelectualmente pedante.

Giovani Iemini disse...

O texto da Me tem personalidade. Fala de sacanagens, situações pouco prováveis, loucuras libidinosas, porém ninguém pode dizer que não é original.
Realmente me CHOCOU quando li. Hehehe. Gostei, tem leveza ao final numa situação tão densa.

MPadilha disse...

Testando,rsss
Primeiro eu não conseguia postar, agora o Edu não consegue comentar."Te desconjuro urucubaca que quer derrubar a Me, se for homem caia o pau, se for mulher os peitos,rsss"
Pronto Edu, pode vir,hehehehe

ofilhodoblues disse...

bem estilo Me!
adorei, gostoso de ler e com fim surpreendente
essa é a nossa Me
eaiaeaieaee
:D
bjss
André Espínola

Anderson H. disse...

Me, o final é fantástico! Um texto gostoso de ler e bem ao estilão que já está virando marca registrada.

Muryel De Zôppa disse...

Gostoso de se ler, com um final surpreendente; muito criativo.

Eduardo Perrone disse...

Embora haja um -inegável- erotismo, há , ainda , uma ternura incrível... Foi emocionante imaginar a transposição, entre o cenário da sala-de-aula , e a fazendola ... Lá, em sua zona de conforto , em meio às galinhas -suas conhecidas - ela tem a "visão" , tanto da vingança adolescente, quanto da volta ao seu recolhimento interior.
Choca o corpo docente-administrativo, tanto o quanto choca o pequeno penoso...E choca-nos, igualmente , ao sorrir de soslaio , como sua xará mais famosa, certa de que , de seus mistérios , só o saberemos se ELA quiser.

Klotz disse...

Maravilha, Me! (ou Me Maravilha?)
Gostei muito.
Tem gente que prefere de frente, outros de costas. Prefiro você contando a poetando.
Super beijo.

Rebellis disse...

Muito legal! Só ficou uma dúvida: como ela chocou o ovo? Heheheheeheheh

Anônimo disse...

Ei, aqui, sinto vontade é de aplaudir, a narrativa mais instigante do momento.Suspirei profundamente.

Thiago Henrique disse...

Ha algum tempo atras estava muito em moda colocar alguem se fodendo para criar seus filhos, e os filhos reconhecendo e dando valor a isso. Nesta narrativa surpreendente do comeco ao fim, a criatividade de uma personalidade muito querida, coloca um basta as tendencias literarias, fazendo da mae honesta, uma senhora cheia de bons motivos para se envergonhar da filha. Embora a tal mona,tenha um leve momento de arrependimento de seus atos depravados, mas e delicioso em saber que quando ve o seu professor, se esquece disso. Sim a Me pode fazer diferente, nao, nao duvide do talento desta mulher, ou voce pode se chocar!rs.

Parabens Me.

Anônimo disse...

Me, você tem uma escrita que 'sempre' está no caminho da surpresa. Divertido e interessante.

Larissa Marques - LM@rq disse...

Parece uma viagem e ao mesmo tempo é tão real. Lembrou-me a fábula de Chico Buarque, "Geni e o Zepelim".

Anônimo disse...

Te dizer que fiquei excitado!Me pareceu um conto quase autobiográfico, ou pelo menos a quase biografia de como vc se pinta.Só achei improvável uma zeladora de uma universidade e diarista fazer uma analogia de sua filha com a obra de Leonardo Da Vinci, mas de toda forma isso é o de menos e se justifica pelo desfecho.Realmente vc é melhor de conto que poema, não tenha dúvida!
Bjo gostosa

Talles Machado Horta/Verdejar/Noir No Ar/Roderick Usher

MPadilha disse...

Nossa!!!Taí Larissa, eu adoro ser chamada de gostosa,rss.Valeu Thales.Beijos