segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Convidado: L Rafael Nolli

Balada homicida
É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.
É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
e de caixinhas de Malrboro.
É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.
É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.


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L. Rafael Nolli nasceu na cidade de Araxá no ano de 1980. Esteve entre os fundadores do Coletivo Nemo, que tem por objetivo uma nova discussão socialista, através da análise das obras de Nietszche e Marx. Tem poemas publicados em diversos jornais e blogs especializados. Seu primeiro livro de poemas, Memórias à Beira de um Estopim, foi lançado no ano de 2005 de forma independente. Atualmente, é estudante de Letras e prepara monografia sobre literatura na Internet.

6 comentários:

medusa que costura insanidades disse...

Bárbaro Rafael,estoante!
bjos
Rita

- disse...

Muito criativo o seu texto .. Demais .. Lindo ... Beijins

Betty Vidigal disse...

Bom pra caramba!!!

quero conhecer o Rafael. Escritor de verdade. Nascido em 80???

hm. "É preciso" conhecer o Rafael.

Diogo Bernini Milagres disse...

Imagine-o como professor!
Ele é o meu!

Larissa Marques - LM@rq disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Larissa Marques - LM@rq disse...

Nolli,
perdi a conta do tempo que a gente se conhece, o certo é que desde a época do Caleidoscopio que eu te curto!
Forte, como tudo seu que leio!